CHRISTIAAN OYENS: ELVIN JONES

Wednesday, May 19, 2004

ELVIN JONES

A comunidade de bateristas mundo afora pode se considerar orfã de pai, perdendo seu principal mentor. Falece o incomparável Elvin Jones. Sem dúvida meu baterista predileto. Me sinto como se tivesse perdido um parente ou um amigo muito próximo. Devem existir poucos comandantes com o mesmo número de horas de vôos q eu contabilizo escutando as gravações de Elvin com o transcendente quarteto de John Coltrane. A assinatura de Elvin no seu prato de Jazz com a quialtera fora do tempo forte acentuada sempre foi uma obsessão pra mim. Foram tantas noites q passei acompanhando num prato de bateria abafado por alguma camiseta suas gravações munido do meu headfone... Elvin suingava com a sutileza de um bambu balançando ao vento e com a força de um rolo compressor. A dicotomia entre sua técnica meio suja e sua delicada nuance. O fraseado tão original e quebrado. Sua afinação aguda até nos tambores graves o q lhe permitia a chance de separação da baixa frequencia nas notas do contra-baixo, ajudando inclusive o ouvinte a reconhecer seu discurso melódico. Sua expressão de deleite tocando. Seu entusiasmo evidente nos grunhidos q acompanhavam seus solos. O maravilhoso uso de poliritmia q ele possuía. A simplicidade de seus temas. O sorriso sempre estampado no rosto. Seu uso fenomenal de baquetas de feltro criando cortinas e tempestades entre seus tambores. Sua belissima cor q era azul de tão negra. Seu acompanhamento ímpar atrás do solista, jamais atrapalhando e contribuindo com frases impressionistas pra inspirar quem estivesse ficando sem assunto. Elvin fez muito mais do q contribuir, ele viabilizou o desenvolvimento de Coltrane. A chamada "wall of sound" (parede sonora) q é atribuída a Coltrane seria simplesmente impossível sem Elvin, pois só ele sabia preencher a lacuna q Coltrane oferecia à sessão ritmica. Hoje só irei ouvir "A Love Supreme" do John Coltrane e brindar as incríveis levadas de Elvin.

Tive o prazer de conhecer Elvin em ´96 quando ele veio pro Free Jazz festival, realizando assim um sonho meu de infância. Pra minha surpresa ele foi o baterista mais cavalheiro q tive o prazer de encontrar. Quando lhe pedi q tirasse uma foto comigo, ele imediatamente aceitou e pediu pra sua esposa q tirasse a foto. Ao ver a minha esposa encostada na parede me esperando, ele disse, "Ei, quero q ela saia na foto também!" Depois ainda me pediu q eu lhe mandasse uma cópia! Toda vez q toco, indiretamente é uma reverência ao Elvin Jones, uma homenagem a seu legado e a herança emotiva q ele me deixa em suas lindas gravações.

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

E aí Cristiaan, tudo OK?
Bacana seu blog e o site á ainda + legal? Quem fez?
Sobre o Elvim Jones, vamos ao "A Love Supreme" de Coltrane...
beijos
(adivinha!!!)

5:12 PM  
Anonymous Anonymous said...

Poxa cara, que bonito esse seu texto... Não acrescentarei nada... Como diria Magrite (meu pintor predileto), vc tornou os pensamentos visíveis...
André Góes, SSA

6:15 PM  
Anonymous Anonymous said...

Jones insuperável, maior de todos! Confissão irretocável, amigo Oyens.
Ficamos órfãos, o peito rasgado, mas geminados pela mesma herança, acredito.
Nele ainda remanescia o mais cristalino espírito do spasm.

9:54 AM  

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