CHRISTIAAN OYENS: October 2006

Friday, October 27, 2006

GUERRILHA URBANA

A simpatia contagiante do carioca é reconhecida mundo afora. Sempre um sorriso, sempre um jeitinho para agradar e aquele charme e ginga que todos apreciam e invejam. Agora, põe ele/ela dentro de um automóvel e ele/ela vira um monstro. Uma bomba relógio prestes a explodir. Um disparador de impropérios, gestos obscenos e palavrões com qualquer infeliz (quase sempre algum outro carioca, diga-se de passagem) q tenha a audácia de simplesmente andar à sua frente.

O motorista carioca tem como filosofia o contra-senso. Ele adota ao volante uma estética de surrealismo Kafkaniano. Ele grita com todos, mas jamais admite ser xingado, nunca cede a vez, mas fica enraivecido quando não lhe permitem a passagem; ele ultrapassa pela direita, buzina perto de hospital, segue ambulâncias em engarrafamentos, desconsidera quando o outro tem a preferência, anda nos acostamentos, estaciona em cima da calçada, ignora o pisca-pisca, desdenha do sinal vermelho, pára em fila dupla, desrespeita o pedestre, bloqueia cruzamentos e acha graça em tudo isso. Acha graça, desde que esteja dentro do carro, é claro. Assim que ele sai do veículo, ele sofre uma espécie de amnésia sobre o seu comportamento dirigindo e será o primeiro a puxar conversa com o primeiro que passar sobre como está tudo um caos, como este país é corrupto, que é uma vergonha como as pessoas dirigem, etc...

Não é possível que continuemos aceitando este comportamento como algo idiossincrático, peculiar; muito menos (por favor!) como algo inerente à malandragem carioca.