O MEU AMIGO BEN
No inicio de 1998, fechando com a gravadora o orçamento para o que seria o próximo disco da Zélia Duncan (Acesso), vi que eu teria a oportunidade de fazer a mixagem do projeto no exterior. Nem pestanejei. Era muito fã da sonoridade de um novo artista que mixava seus discos sem aqueles fatídicos ecos, tão populares na década de 90. O músico era o Ben Harper e seu técnico de mixagem, Eric Sarafin. Levei o projeto da Zélia para o Eric mixar no estúdio A&M em Los Angeles, Califórnia.
Com a vinda do Ben Harper para o Free Jazz Festival no final de ’98, voltei a entrar em contato com o Eric. Tinha que encontrar o Ben, pois eu era o único músico em territórios nacionais adepto dos Weissenborns, ou violões de colo havaianos. Lá fui eu, com a minha cópia de um Weissenborn, feito pelo luthier californiano David Dart, um cara que achei na Internet. Ao encontrar o Ben numa tarde de vento e chuva primaveril, ofereci de lhe mostrar o meu violão e ao retirá-lo do case, vi que seus olhos estavam cheios de lágrimas. O David Dart tinha trabalhado na loja de instrumentos do avo do Ben em Claremont, Califórnia. O David, portanto, era uma das pessoas que tinham ensinado o Ben a tocar e fabricar (hobby do Ben Harper) estes maravilhosos violões.
Ben e sua trupe estavam de saída para visitar o Pão de Açúcar. Insisti muito com o empresário do Ben, JP Plunier, que era muito arriscado investir nesse programa num dia de vento e chuva e consegui convencê-los a visitarem o Corcovado. Eles me convidaram para acompanhá-los e lá fui eu para o programa turístico. Chegando no Corcovado havia uma nuvem cobrindo o Cristo Redentor, mas dez minutos depois a nuvem se dissipou e o Cristo apareceu de braços abertos acolhendo Ben e sua banda. Todos, eu disse todos, começaram a berrar e chorar com a aparição mística. Ben, apenas me disse, “Thank you, thank you”!
No dia seguinte, fui na passagem de som e assisti ao show no MAM. Despedi-me dele e não nos falamos mais. O próximo a chorar, porém, fui eu ao ouvir no seu próximo disco a canção, “Blessed to be a Witness”, que abre com a frase “Corcovado parted the skies...” Aguardo ansioso para poder reencontrar o meu amigo amanhã no Claro Hall.
