SEMPRE AGORA
Tanto faz. Uma composição, um improviso, uma canção... Tudo parte do nada. A inspiração é o processo mais difícil de explicar que eu conheço. Quando me refiro à inspiração não estou falando sobre estar sentado num quarto esperando que alguma idéia desça como por milagre dos céus, mas a capacidade de criar a qualquer momento. Evidentemente isso requer técnica também. Essa busca é fascinante. Recentemente, um amigo me disse, “Cara você tocou com o Cazuza, compôs altas musicas com a Zélia, produziu o MTV Acústico do Lulu Santos, como você se sente tendo feito isso tudo?” Fiquei pensando e tenho que admitir que fora uma pequena sensação de orgulho disso tudo, não sinto nada em relação a estes créditos. Recuperado do choque inicial, percebi que na verdade a minha reação à pergunta era muito saudável. É como o surfista que não fica pensando no belíssimo tubo que acabou de pegar. Ele ta é focado é na PRÓXIMA onda, caso contrário, ele poderá perdê-la! Sinto isso quando vejo as performances de Miles, Charlie Parker, Hermeto, Kelly Joe Phelps e outros grandes improvisadores. Eles estão antenados com o momento de criação. Não rola aquele sorrisinho de “nossa que lindo o que acabo de tocar”, nem qualquer deslize auto-congratulatório. O prazer reside no que estará por vir. O verdadeiro criador é aquele que vive no presente. Ele elabora invenções espontâneas. Ele sabe que uma nota apenas leva a outra, que leva a outra, que leva a . . .