ELVIN JONES
A comunidade de bateristas mundo afora pode se considerar orfã de pai, perdendo seu principal mentor. Falece o incomparável Elvin Jones. Sem dúvida meu baterista predileto. Me sinto como se tivesse perdido um parente ou um amigo muito próximo. Devem existir poucos comandantes com o mesmo número de horas de vôos q eu contabilizo escutando as gravações de Elvin com o transcendente quarteto de John Coltrane. A assinatura de Elvin no seu prato de Jazz com a quialtera fora do tempo forte acentuada sempre foi uma obsessão pra mim. Foram tantas noites q passei acompanhando num prato de bateria abafado por alguma camiseta suas gravações munido do meu headfone... Elvin suingava com a sutileza de um bambu balançando ao vento e com a força de um rolo compressor. A dicotomia entre sua técnica meio suja e sua delicada nuance. O fraseado tão original e quebrado. Sua afinação aguda até nos tambores graves o q lhe permitia a chance de separação da baixa frequencia nas notas do contra-baixo, ajudando inclusive o ouvinte a reconhecer seu discurso melódico. Sua expressão de deleite tocando. Seu entusiasmo evidente nos grunhidos q acompanhavam seus solos. O maravilhoso uso de poliritmia q ele possuía. A simplicidade de seus temas. O sorriso sempre estampado no rosto. Seu uso fenomenal de baquetas de feltro criando cortinas e tempestades entre seus tambores. Sua belissima cor q era azul de tão negra. Seu acompanhamento ímpar atrás do solista, jamais atrapalhando e contribuindo com frases impressionistas pra inspirar quem estivesse ficando sem assunto. Elvin fez muito mais do q contribuir, ele viabilizou o desenvolvimento de Coltrane. A chamada "wall of sound" (parede sonora) q é atribuída a Coltrane seria simplesmente impossível sem Elvin, pois só ele sabia preencher a lacuna q Coltrane oferecia à sessão ritmica. Hoje só irei ouvir "A Love Supreme" do John Coltrane e brindar as incríveis levadas de Elvin.
Tive o prazer de conhecer Elvin em ´96 quando ele veio pro Free Jazz festival, realizando assim um sonho meu de infância. Pra minha surpresa ele foi o baterista mais cavalheiro q tive o prazer de encontrar. Quando lhe pedi q tirasse uma foto comigo, ele imediatamente aceitou e pediu pra sua esposa q tirasse a foto. Ao ver a minha esposa encostada na parede me esperando, ele disse, "Ei, quero q ela saia na foto também!" Depois ainda me pediu q eu lhe mandasse uma cópia! Toda vez q toco, indiretamente é uma reverência ao Elvin Jones, uma homenagem a seu legado e a herança emotiva q ele me deixa em suas lindas gravações.